quarta-feira, 17 de março de 2010

FUGA videodança

Processo de pesquisa para produção de videodança.
Roteiro


Um emaranhado de linhas desenha entre montanhas a cidade de Belo Horizonte organizando e compondo seu território urbano. São forças que orientam os corpos em trajetos previsíveis, dissolvendo suas ações na paisagem urbana borrada pelos excessos. Possíveis melodias desaparecem no ruído difuso da paisagem sonora Lo fi[1] da metrópole. Ao longe quase não há contrastes. Entretanto, ao direcionar o olhar, fragmentar os espaços, isolar sons e ouvi-los de perto, fazemos um recorte que extrai da paisagem quadros específicos que podem revelar possibilidades de ações fugazes entre as vias do cotidiano.
A câmera enquadra, recorta, seleciona o que será revelado ao olhar, traz à tona linhas ocultas na paisagem urbana, inventa novamente o espaço e o tempo que se abrem agora a novas articulações. Pontes, passarelas, esquinas e escadarias tornam-se espaços irradiadores de movimento, canais de passagem, dobras, frestas por onde escapam corpos, imagens, melodias[2].
Quatro corpos fogem nesta nova cidade possível. Eles possuem um objetivo oculto em comum que os une em cumplicidade. Encontram-se e se perdem a cada novo desvio, traçam linhas errantes pela cidade descobrindo em cada lugar possibilidades de outros deslocamentos e diferentes movimentações. São quatro melodias que se relacionam entre si, com a orquestração da metrópole e com o olhar da câmera num contraponto que procura evidenciar os contrastes entre previsível e possível, caminho e trajetória, paisagem e narrativa.
Cada dançarino desenvolve sua pesquisa corporal partindo de motivos de poética espacial e de musicalidade, criando partituras subjetivas que orientam a performance. Este estímulo provoca uma resposta corporal, um tônus, tensões que reverberam gestos articulados no espaço. É preciso criar ritmos e dinâmicas, jogar com o enquadramento, compor com o espaço e os passantes, evidenciar e surpreender expectativas em uma poética do deslocamento que esburaca o espaço e o tempo.


[1] SCHAFER, Murray. A afinação do mundo. São Paulo: Unesp, 1997.: A paisagem sonora Lo fi (baixa fidelidade) surge com o congestionamento do som após as revoluções industrial e elétrica e é caracterizada pela relação sinal/ruído de um por um.
[2] A idéia de Melodia aqui, bem como outras expressões tomadas do universo da composição musical, extrapola a noção estritamente musical do termo, torna-se uma metáfora para a composição de linhas de ação e de uma poética audiovisual.














Poética espacial
Deslocamento: tema que se desdobra dando origem à fuga. Ele evoca passos, saltos, esquivas, deslizes, mudanças de percepção, linhas de fuga. A partir de um estudo fotográfico das locações são traçadas cartografias que desenham novas linhas no espaço. Surge um jogo de combinações entre as linhas traçadas pela movimentação da câmera, dos dançarinos e das forças dinâmicas da cidade. Vias por onde transitam corpos e olhares.

















Musicalidade
Cada dançarino cria um ritmo próprio, um fraseado pessoal que ora contrasta, ora sincroniza com os demais. Os corpos se lançam no espaço definido pelo enquadramento como que compondo uma melodia. As ações desenhadas no espaço por estes corpos-vozes podem ser sobrepostas formando duos, trios e quartetos, seja em ações simultâneas no mesmo espaço, seja através da contraposição de diferentes takes justapostos em um mesmo quadro formando uma polifonia de imagem, movimento e som.

ESTUDO PARA FUGA


Equipe
VÍDEO E SOM
Philippe Lobo – Roteiro / direção / trilha sonora
Joacélio Baptista – videomaker
Luish Coelho – Direção de fotografia / videomaker
Wilson Souza – Trilha sonora

ELENCO:
Marcelle Louzada
Lourenço Marques
Karina Collaço
Fábio Dornas


Exercício para uma poética da fuga nº1



"São Paulo revelada" - Câmara obscura criada em quarto de hotel


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